ARROZ-DOCE |
Depois chegou a hora das luzes e do jantar. Eu encomendara pelo Grilo ao nosso magistral cozinheiro uma larga travessa de arroz-doce, com as iniciais de Jacinto e a data ditosa em canela, à moda amável da nossa meiga terra. E o meu Príncipe à mesa, percorrendo a lâmina de marfim onde no 202 se escreviam os pratos a lápis vermelho, louvou com fervor a ideia patriarcal:
- Arroz-doce! Está escrito com dois ss, mas não tem dúvida... Excelente lembrança! Há que tempos não como arroz-doce! Desde a morte da avó.
Mas quando o arroz-doce apareceu triunfalmente, que vexame! Era um prato monumental, de grande arte! O arroz, maciço, moldado, em forma de pirâmide do Egipto, emergia de uma calda de cereja e desaparecia sob os frutos secos que o revestiam até ao cimo, onde se equilibrava uma coroa de conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E as iniciais, a data, tão lindas e graves na canela ingénua, vinham traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repelimos, num mudo horror, o prato acanalhado.
E Jacinto, erguendo o copo de Champanhe, murmurou como num funeral pagão:
- Ad Manes, aos nossos mortos!
A Cidade e as Serras
Eça de Queirós [1845-1900] |
INGREDIENTES [6 pessoas]
500g de arroz carolino
1,5l de leite
1 vagem de baunilha
500g de açucar
Canela em pó
Ferva o leite com a baunilha. Coza o arroz no leite e, quando estiver cozido, acrescente o açúcar. Deixe arrefecer e polvilhe com a canela a gosto.
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