Desgraçadamente nascemos nesse tempo,crescemos tristemente
por dentro de anos tão ocos
quão cheios de pedras aceradas
e de vozes tantas vezes inaudíveis.
Que eu esqueça desses anos
o cheiro da pobreza,
o bolor das horas magoadas,
o medo, a cela, a incerteza
e apenas recorde o calor do sangue
lutando por correr,
lutando por achar o caminho da manhã.
Que o clamor das ruas de novo me visite
como então as visitei e percorri
com a morte em sentido contrário,
como então as visitei e percorri
em busca do sol
que no quarto mês do ano renasceu
vestido de vermelho.
Que o espanto de novo me visite,
nessas ruas onde a voz aprendeu a nomear
o que as palavras mais puras
desde sempre reclamaram:
o pão e a justiça, a liberdade
palavras tão gastas que dos versos
por estúpido pudor, burguês, as exilaram.
João Pedro Mésseder
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